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Falar ao Telemóvel

  • Foto do escritor: Maria do Mar Vieira
    Maria do Mar Vieira
  • 1 de fev. de 2020
  • 2 min de leitura


Não gosto mesmo nada de falar ao telemóvel! Ninguém percebe o porquê e todos insistem para que eu vença esta minha resistência. Mas nada feito, e eu vou explicar porquê:

O telemóvel toca e eu fico a olhar para ele aterrorizada, como se fosse um monstro, um inimigo. Fico paralisada, sem saber o que fazer, o meu coração acelera, entro em pânico. Por isso tenho sempre o telemóvel no silêncio, para não o ouvir tocar. Quando o oiço, fico a pensar ‘atendo ou não atendo’? ’é melhor atender, pode ser algo importante’, ‘não, não consigo’, e acabo sempre por não atender.

Raramente atendo telefonemas, habitualmente só atendo os meus pais ou algo muito urgente, assuntos muito concretos, por exemplo quando tenho um encontro e preciso de saber a direção.

Falar ao telemóvel deixa-me muito confusa, desconfortável e perdida. Como não vejo o meu interlocutor, não sei decifrar os sinais faciais e corporais, não sei quando devo falar e, ainda pior, não sei o que dizer. Quase sempre quem está do outro lado fala praticamente sozinho, eu só digo 'sim', 'não', 'pois', 'hum'. Muitas vezes está muito barulho do outro lado da linha, ou oiço a minha voz em eco e não me consigo concentrar.

Quando era pequena e ia de carro com a minha mãe, ela pedia-me para eu atender o telemóvel e dizer que ela estava a conduzir. Entrava em pânico. A pessoa iria começar a falar comigo pensando que era a minha mãe. O que haveria de dizer? Dizia logo que era eu mal atendesse o telemóvel? Ou deixava a outra pessoa falar e só dizia quem era no final? Não sabia e ficava esgotada de incerteza e indecisão.

E quando alguém diz que é comigo que quer falar? Como assim…falar comigo? Tenho mesmo de falar? Eu não quero falar! Não estou preparada e mentalizada para isso. Não sei o que me vão dizer... o que devo responder? Quando devo responder? Quando era pequena, ia buscar todas as forças, continha as lágrimas que tinha nos olhos prestes a sair cá para fora … só queria não estar ali, ser invisível e desaparecer. As minhas mãos tremiam e a voz fraquejava.

Falar ao telemóvel é muito esgotante, para mim, porque tenho de me focar com toda a atenção. Tenho de pensar em mil e uma coisas ao mesmo tempo, como por exemplo no que o outro está a dizer, qual a intenção do que é dito, e o que é suposto eu dizer, se ele está a falar a serio ou a brincar.. tento imaginar se está contente e a sorrir, ou zangado… prever quando é que vai fazer uma pausa para eu falar… pensar no que devo dizer sem ter muito tempo para pensar... E além disto tudo tentar ignorar todos os barulhos de fundo e todas as interferências que existem.

Hoje em dia já consigo dizer que não, não vou atender o telemóvel. É o melhor para mim e para o meu bem estar!

 
 
 

2 Comments


Maria do Mar Vieira
Maria do Mar Vieira
Feb 12, 2020

Muito obrigada Vó! Obrigada por todo o apoio e ajuda! Gosto imenso de ti ❤️

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leonorcastron
Feb 09, 2020

Compreendo-te muito bem, Maria. A mim também me acontece, um pouco, a mesma coisa. Não termos o interlocutor à nossa frente tira naturalidade à comunicação. Muita vezes também não atendo o telemóvel e olho para ele enquanto toca com uma grande inibição. Mas depois faço um esforço e sou eu que tenho a iniciativa de ligar. Não só porque me preocupa que alguém precise mesmo de falar comigo mas também porque preciso e quero ultrapassar e vencer as minhas inibições. Acredito que também tu acabarás por vencer as tuas.

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