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  • Foto do escritorMaria do Mar Vieira

Férias das Férias




As férias são a altura do ano em que aproveitamos para viajar, visitar amigos, estar com a família, ir à praia, conhecer novos lugares. Isto tudo com o objetivo de espairecer a cabeça e descansar.

Mas as férias deixam-me exausta. Implicam mudanças de rotina, novos estímulos e mais interação do que o habitual. E sinto que é preciso Férias das Férias.

Ir passar férias com a família significa habituar-me a uma nova casa, a novos horários e a novas rotinas. O lugar de sentar à mesa mudou e tenho de arranjar um novo. O cantinho onde me posso abrigar desaparece e tenho de encontrar um novo nesta nova casa. A rotina das outras pessoas é diferente e tenho de me adaptar um pouco a ela e às pessoas da nossa família. Estar numa cidade diferente significa passar por ruas novas, pessoas novas e estímulos novos. Significa enfrentar o desconhecido a cada esquina, e a confusão de pessoas e ruídos a cada passo. Na praia estamos rodeados de pessoas, onde se ouvem as gargalhadas da família ao lado, o homem das bolas de Berlim a passar de 15 em 15 minutos e sempre alguém a passar ao nosso lado.

A interação torna-se mais exigente, pois estamos com a família que já não vemos há uns meses e temos de nos esforçar mais para comunicar, aprender como se interage com aquelas pessoas.

E depois de uma semana assim, vais passar outra semana para outro sítio e volta tudo ao início onde tens de te habituar a novas pessoas, nova casa e novas ruas.

No final, chego ao fim das férias completamente exausta, só a querer estar sozinha no meu quarto, a evitar todos os estímulos. Por isso preciso de férias das férias para recuperar destes dias tão intensos. Preciso de uns dias em que não tenha nada combinado com ninguém, em que fique em casa no meu cantinho a recarregar energias, a fazer coisas que goste e que não exigem muito de mim, como ouvir música, ler ou ver um filme ou série. Preciso desse tempo e desse espaço para estar apta a recomeçar o novo ano com força suficiente para enfrentar mais mil e um desafios e obstáculos.


Mas se me dessem a hipótese de não sair e passar férias, diria logo que não queria. Posso ter de enfrentar novos estímulos, mas também posso ficar em casa naquele dia só a ler e a ouvir música, longe de todos, no meu novo cantinho. Posso ir para o mar e ouvir só a água do mar a vir contra mim, e aí sentir uma grande paz interior. Posso estar exausta naquela hora e não jantar com a família, e comer depois mais tarde se quiser. Numa rua cheia de gente e confusão, posso passar para o outro lado da estrada. Posso ir para a piscina e ficar sozinha só a ouvir os pássaros. Depois de jantar posso ir para o meu quarto e ficar a ver a minha série sozinha. Enquanto estão todos a conversar, posso ficar calada só a ouvir, e ninguém me chateia se eu participo na conversa ou não. No supermercado posso sair e ficar cá fora à espera.

Mas isto só é possível porque tenho uma família que me compreende, respeita, conhece e já sabe como funciono e do que preciso. E assim tornar as minhas férias um pouco mais fáceis, onde eu as posso aproveitar melhor, e encurtar ligeiramente as minhas férias das férias.


Por isso é importante conhecerem bem o autista com quem vivem e convivem, saber das suas necessidades e dificuldades, para arranjarem estratégias para reduzir as sobrecargas e introduzirem momentos de prazer e relaxamento. E no final das férias saibam que precisamos do nosso tempo para nos reorganizarmos e recuperarmos, não exijam muito de nós nesse período, estamos frágeis e precisamos de espaço, tempo e apoio para ficarmos fortes de novo.


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