Dia do Pai
- Maria do Mar Vieira
- 19 de mar.
- 2 min de leitura

Pai.
Tu que me viste crescer. Que sempre me respeitaste e aceitaste tal como eu era. Que depois do diagnóstico me acolheste.
Tu que me dás espaço sempre que preciso. Não tenho de to pedir porque tu já sabes que preciso dele. Fico no quarto a recuperar de uma sobrecarga ou desregulação emocional, enrolada nos lençóis a chorar. Passado um tempo mandas-me mensagem a perguntar se quero lanchar. Não vais ao meu quarto para não me incomodar. Aquela mensagem é um grande aconchego e sabe muito bem recebe-la. Saber que estás na divisão ao lado, e que estás lá pronto para me receber e abraçar quando eu estiver preparada para isso.
Falamos sobre tudo. Falo sobre os meus problemas, as minhas angústias, as minhas crises. Ouves-me sempre, partilhas histórias tuas também, sabendo que te identificas em muitas coisas comigo. Apoias-me sempre em tudo. Só queres que eu seja feliz. Não me pressionas a nada. Tu e a mãe não me obrigaram a continuar a estudar, a ir para a faculdade, não me obrigaram a ir trabalhar. Deram-me sempre tempo e espaço e confiaram sempre nas minhas decisões. Mesmo que toda a gente fosse contra e me pressionasse a fazer o contrário. Vocês sempre me disseram para eu fazer o que amo e ser feliz. Obrigada por isso.
Pai. Obrigada também por me dares sempre a tua casa quando eu me chateava e queria ir para outro sítio. Obrigada por me acolheres e por me receberes. Obrigada por me deixares mudar a casa do avesso, fazer obras e pôr a casa como eu queria.
Obrigada por todas as sessões fotográficas e vídeos que fazíamos, antes de eu ser modelo. Obrigada em alinhares em todos os meus projetos. E obrigada por confiares em mim e me convidares a dançar em todas as inaugurações e eventos que fazes. Obrigada por seres o meu maior fã. Por me ires sempre ver dançar e filmares todas as atuações.
Obrigada por me vires acordar todos os dias com a música ‘Good Morning’ do Singing in The Rain, que eu adorava, quando eu estava com a depressão. Obrigada por todos os passeios e gelados que comemos. Obrigada por todos os pequenos esforços que fizeste para eu ter dias um pouco mais alegres.
Obrigada por te lembrares daquilo que me incomoda e fazeres sempre tudo para eu não me sentir desconfortável. Obrigada por irmos sempre à volta quando há os estudantes da praxe a gritar, por me perguntares se quero ir embora quando o restaurante está muito barulhento. Obrigada por partilhares o silêncio comigo.
Obrigada por seres o pai que és. Sei que ser pai de uma jovem autista não é fácil, mas tu estás mais do que à altura do desafio. Tens sido o melhor pai que podia ter tido.
Ser autista não é fácil, mas com um pai como tu ao meu lado, é muito mais fácil.
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