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Foto do escritorMaria do Mar Vieira

Meltdowns e Hospitais



Foto de Pedro Soares

Recentemente tive uma crise. O desespero era grande. Quando dei conta estava parada no meio da estrada. Chorava e na minha cabeça só existia a frase ‘Quero morrer’. Passavam carros por mim, uns de boca aberta, outros a perguntar o que se passava. Respondia sempre para me matarem, mas isso não adiantava de nada, eles seguiam o seu caminho. Um carro parou mais à frente e ficou lá um bom bocado parado. Passado um tempo havia vários carros à minha volta. De um deles saíram 3 jovens e vieram ter comigo. Disseram-me que eram enfermeiros e que me queriam ajudar. Levaram-me para fora da estrada e sentaram-me. Perguntaram-me se tinha frio, fome ou sede. Falaram com o casal do primeiro carro que tinha parado para chamar o INEM. Disse-lhes para não dizerem nada aos meus pais, não os queria preocupar. Pedi para dizerem aos bombeiros, quando chegassem, que eu era autista e que as luzes e barulho das sirenes me incomodava e que por vezes eles eram brutos a falar.

Quando os bombeiros chegaram, os jovens explicaram a situação e os bombeiros foram logo desligar as luzes da ambulância. Foram muito simpáticos e compreensivos. Levaram-me para as urgências do hospital. Não tive de esperar muito, fui logo para a triagem e depois para a sala de espera da psiquiatria. Fui chamada logo.

Não gostei do psiquiatra que me atendeu. Falava de uma forma que me irritava e deixava desconfortável. Normalmente nunca me dou bem com as pessoas do hospital. Tenho muitas crises nestas situações. Não sei bem o que está a acontecer, na maioria dos casos não são simpáticos e não explicam os processos pelo que estamos a passar dentro do hospital e falam connosco de uma forma que não me agrada nada.

Entrei em crise. Fui para a porta. Disseram-me que não podia ir embora. A crise foi aumentando. Quando dei conta as minhas mãos batiam na minha cabeça. A ansiedade era enorme. Estava perdida sem saber o que fazer. Só queria desaparecer. Sair dali. O que me diziam não ajudava nada. Não tinha controlo sobre mim própria. Comecei a bater no psiquiatra. Apareceu logo um enfermeiro e um segurança. Agarram-me os braços, torceram-mos para eu não me conseguir mexer. Eu dizia que era autista e não me podiam fazer aquilo. A crise aumentava. O sofrimento aumentava. Tentava-me libertar, mas eles apertavam-me cada vez com mais força. Levantaram-me as pernas e eu cai no chão. O segurança pôs os joelhos em cima de mim, agarravam-me os braços e as pernas. Eu só gritava e chorava. O toque doía-me. A pressão era cada vez maior e a dor aumentava a cada segundo. Parecia lava a queimar em cima de mim. Foram minutos que pareceram horas. Levantaram-me e quiseram-me por numa maca e dar-me uma pica para eu parar e acalmar. Eu comecei a gritar que queria a minha mãe. Perguntaram-me se a minha mãe viesse eu parava. Eu disse que sim. Deram-me um calmante e ligaram à minha mãe. Ela veio e levou-me para casa.

Mal cheguei a casa adormeci de cansaço e a sentir dor no meu corpo, como queimadoras. Adormeci com a certeza que os hospitais são um local de tudo, menos um lugar seguro. Senti-me humilhada e desrespeitada. Quando estamos em Meltdown, deve-se fazer tudo menos tocar, agarrar e usar a força contra nós. Deve-se tentar acalmar a pessoa, leva-la para uma local mais tranquilo. Se antes não gostava de ir a hospitais, agora tenho medo. Esta não foi apenas uma má experiência, foi MAIS uma experiência negativa dentro de um hospital. Todas as pessoas que trabalham em hospitais deviam ter formação de como lidar com autistas. Só estão a criar traumas e inseguranças em nós. Sozinha nunca mais quero ir a um hospital.

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