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  • Foto do escritorMaria do Mar Vieira

Uma Nova Vida


Foto de Adolfo Usier

Há 4 meses mudei-me para uma nova cidade, Lisboa.

Fui em busca do meu sonho. Na minha cidade não tinha como crescer, evoluir na área que eu queria, dança e fotografia. Em Lisboa tenho muito mais oportunidades, não só como modelo fotográfico, pois existem muitos mais trabalhos, mas como bailarina, que consegui entrar numa Companhia de Dança Profissional onde me aceitam e respeitam tal como sou.

É difícil encontrar um trabalho onde sejamos bem integrados, onde nos deixem confortáveis para sermos nós próprios e nos deem as acomodações de que necessitamos. Consegui encontrar isso. Finalmente me sinto segura e feliz. Já não me sinto uma estranha, uma extraterrestre. Sinto que faço parte deste mundo. Encontrei as pessoas certas, a equipa certa.

Cada vez que saio de uma aula de dança sinto que estou um passo mais próximo de alcançar os meus objetivos.

Sempre que saio de um trabalho fotográfico sinto-me realizada. Sei que sou boa naquilo que faço, talvez por ser um dos meus interesses específicos, e ser algo onde me sinto muito à vontade. Posar é quase tão simples e natural como respirar. Apenas me deixo ir e entro no meu mundo. Por incrível que pareça, fotografar e dançar é tão mais fácil para mim do que o quotidiano da vida. E ver o meu trabalho reconhecido e valorizado é um sinal de que estou no caminho certo.

Mas nem tudo é um mar de rosas. Lisboa é uma cidade muito mais confusa e barulhenta. Noto que a minha resistência e as minhas baterias esgotam-se mais facilmente. Mas descobri que de manhã, se sair cinco minutos mais tarde de casa, o metro já não está tão cheio, e com os meus fones de cancelamento de ruído, torna-se muito mais confortável, e chego mais tranquila às aulas de manhã.

Tenho uma agenda onde registo todas as atividades que tenho ao longo do dia, e consoante as tarefas e trabalhos que tenho para fazer, aponto também horas para descansar. Se tiver algum trabalho num dia à tarde, sei que tenho de me deitar mais cedo naquele dia e no dia seguinte não posso ter tantas tarefas para fazer, pois vou precisar de descansar bastante.

Viver sozinha não significa só ter de tratar sozinha das refeições, da casa e do meu horário. Significa também ter de gerir as minhas desregulações emocionais e as minhas sobrecargas sozinha. E isso é o que mais me assusta. Ter algum Meltdown e estar completamente sozinha. Chegar a casa e não ter ninguém que me dê aquele abraço que me acalma. Fechar-me no quarto e ir para o meu cantinho, mas saber que está ali alguém em casa que me dá o espaço que necessito e me manda uma mensagem a dizer que está ali ao lado caso eu precise de algo. Ter alguém que me obrigue a comer, quando me sinto sem forças para nada. Assusta ter de cuidar de mim, mesmo quando nem sei quem sou e onde estou.

Houve dias difíceis, mas tive o apoio da família e de amigos. Aquela amiga que me manda o trajeto detalhado de como tenho de ir para casa, quando acabei de ter um Meltdown no meio da rua e não sei como voltar para casa. Aquele amigo que te devolve à realidade. Família que sei que vinha a correr para Lisboa se eu pedisse. Chamadas que antes significavam tormento e agora significam segurança. Amigos que vêm ter comigo e me ajudam a ir comprar um aquecedor e uma manta para estes dias de frio, porque eu não sei como o fazer. Mensagens a perguntar como estou, vindas quando menos espero.

Ter o apoio incondicional das pessoas à minha volta torna a minha vida muito mais fácil, e sou uma sortuda por ter as pessoas que tenho e agradeço-lhes por toda a ajuda que me têm dado ao longo destes tempos.

Têm sido momentos para crescer, me conhecer um pouco melhor e criar estratégias para ultrapassar todos os momentos mais difíceis. Todos os dias me lembro porque estou aqui e isso deve-se a toda a força e luta ao longo destes anos todos. Nunca desisti e segui sempre em frente, rumo aos meus sonhos e objetivos.

Por vezes sinto-me sozinha, quando anoitece, a casa fica às escuras, e quando o barulho que ouço não é do meu gato, que não pode vir comigo para Lisboa. Por vezes choro. Por vezes quero ficar a dormir o dia todo. E está tudo bem nisso.

Poderão haver sobrecargas, sentimentos frustrados, confusão, lágrimas, ansiedades e imprevistos, mas haverá sempre o sol a bater na janela, um gato que vejo na rua, o sorriso de alguém, um gelado, danças, uma borboleta a passar, fotografias, uma música que gosto, o quentinho reconfortante da cama e um livro.

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