Maria do Mar Vieira
18 Junho - Dia do Orgulho Autista

Durante muito tempo tive vergonha de mim. Tinha vergonha de ser como era. Aquilo que queria era ser igual aos outros. Pensar como eles, sentir como eles. Ter um percurso igual ao deles. E tudo talvez fosse mais fácil. Via toda a gente a ir para a faculdade, a acabar a faculdade, a fazer o mestrado, a ir trabalhar. E eu aqui. Sem conseguir fazer nada disso. Sentia-me triste porque não conseguia fazer o que eles faziam. Sentia-me mal por estar a ficar para trás. Por todos me estarem a ultrapassar e eu continuava no mesmo lugar. Ainda nos dias de hoje, por vezes, penso nisso. Mas depois lembro-me de tudo o que já alcancei, de tudo o que já superei, de todas as lágrimas, dificuldades e desafios, mas também de todos os risos, superações e vitórias. E aceito isso. Temos de aceitar que nem todos temos o mesmo percurso, que não precisamos de ser iguais aos outros e fazer um percurso igual. Sei que sou diferente, que o meu percurso vai ser diferente, mas não é por isso que vai ser pior. Sei das minhas características, das minhas dificuldades, mas também sei da minha força e da minha vontade. Hoje em dia consigo fazer mais do dobro do que antigamente conseguia. Coisas que para a maioria das pessoas, são coisas simples e normais, exigem de mim maior esforço. Mas trabalhei diariamente, para hoje o conseguir fazer. Pode-me custar e ainda sinto alguma ansiedade antes de o fazer, mas já o consigo fazer! Existe maior vitória do que nos superarmos a nós próprios? Lembro-me de na escola, quando nos perguntavam o que gostávamos de ter, de fazer, de ser, quando fossemos adultos, toda a gente respondia ter uma casa, um carro, um emprego, uma família. Eu nunca conseguia responder a essas perguntas. Deixavam-me muita ansiosa. Talvez porque o que pensava era totalmente diferente do resto dos meus colegas e tinha medo de o dizer. Aquilo que eu queria era ser feliz. Feliz no sentido de estar tranquila e emocionalmente estável. E lutei por isso. Toda a gente ficou em choque por eu querer desistir de tudo, mas na realidade aquilo não me estava a fazer feliz e por vezes temos de parar, aceitar quem somos e lutar por nós e pela nossa felicidade. É isso que estou a fazer. E celebrar todas as nossas vitórias, por mais pequenas que sejam, faz parte disso. Tenho orgulho de tudo aquilo que consegui fazer e alcançar. De todas as dificuldades que ultrapassei. De todos as pessoas que conheci. Tenho orgulho do percurso que estou a fazer. Se não seguisse este percurso, provavelmente seria uma miúda frustrada e triste e nunca teria crescido e evoluído tanto, nunca teria conhecido as pessoas incríveis que conheci, não estaria a fazer o que realmente gosto. Não tenham medo de serem diferentes. De lutarem por vocês e pela vossa felicidade. Porque nada é mais importante do que isso. Eu tenho orgulho em mim, nas minhas características, nas minhas capacidades e também nas minhas dificuldades, pois sei que as consigo superar. Eu tenho orgulho na minha memória, na minha sensibilidade, na minha genuidade, nos meus hiper focos, nas minhas rotinas, nas minhas estereotipias, nas minhas ecolalias, na minha alexitimia, na minha dificuldade a interagir e a comunicar, pois isto tudo faz parte de mim e sem isto tudo eu não seria a pessoa que sou hoje. Não teria tanta força, coragem e persistência. Hoje posso dizer que sou feliz. Posso dizer que tenho orgulho em mim. Tenho orgulho em ser autista.