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  • Foto do escritorMaria do Mar Vieira

Natal


Foto de João Queiroz


Natal. Uma época tão bonita e tão desejada por todos. Uma época em que se anseiam os jantares de família e entre amigos. Uma época de dar e receber presentes. Uma época de luzes e músicas de Natal pelas ruas. Uma época de centros comerciais cheios. Uma época de felicidade e sorrisos. Mas também uma época que se pode tornar num autêntico pesadelo.

Primeiro temos a grande preocupação das prendas de natal. O que comprar para cada membro da família? Talvez isso não seja o pior, pois adoro oferecer prendas e ver o sorriso na cara das pessoas quando as recebem. O pior é mesmo o ter de entrar em centros comerciais nesta altura. Pessoas e mais pessoas... Vozes, crianças a chorar, gargalhadas, o barulho dos sacos a bater contra tudo... e a acrescentar a isto tudo temos a música altíssima dentro dos centros comerciais e das lojas. Eu adoro música, gosto de a ouvir dentro das lojas, mas não quando estão milhares de pessoas a falar por cima. E porque é que a música é sempre diferente de loja para loja? Não podia ser sempre a mesma? O meu cérebro tem de estar sempre a processar a chegada de uma nova música... era tão mais fácil se fosse uniforme e só ter de processar a chegada da música apenas uma única vez.

Depois chegamos às ruas iluminadas de noite. Que luzes lindas e que efeitos incríveis que fazem!! Mas não podiam ser todas da mesma cor? Ou não ser tão intensas? Às vezes os olhos doem de olhar para elas.

E por último, mas não melhor. Os jantares de família. Estar com família que praticamente só vemos nesta altura. Devia ficar feliz por os ver.… e fico! Mas apenas só por alguns minutos. Não sei o que dizer, fico um pouco ansiosa porque não sei como interagir com aquelas pessoas. Além das pessoas que estão sempre a entrar e a sair de casa, as visitas sorridentes e com presentes. Como comunicar com elas? Fecho-me sempre no quarto quando a campainha toca para não ter de falar com ninguém. Nunca sei como reagir quando abro os presentes. Gosto da prenda, é claro, mas como demonstrar isso? Lembro-me uma vez quando era pequena, da minha prima dizer que eu quando abro as prendas demonstro indiferença, continuo exatamente na mesma. Fiquei a pensar naquilo e lembro-me de lhe querer ter dito ‘como mostro à pessoa que gostei da prenda? Ensina-me!’ mas tive vergonha e apenas continuei a mostrar a tal indiferença.

Aliado a isto tudo, temos a árvore de natal cheia de luzinhas a piscar de várias cores. Se as luzes estiverem estáticas e não muito fortes, a árvore fica linda e é uma alegria olhar para ela, mas com luzinhas a piscar? Como conseguem? Eu tenho logo de desviar o olhar, ou então os olhos começam-me a doer. E temos também os mil e um cheiros a rondar a casa e os jantares intermináveis que não têm fim.

Chegar ao fim do dia e finalmente poder fechar-me no quarto a chorar de cansaço e sobrecarga. Isto tudo era quando não tinha diagnóstico, quando não sabia que podia ser tudo diferente. Quando não sabia que podia pedir para tirarem as luzes da árvore de natal, que me podia levantar da mesa e ir descansar um pouco para o meu quarto, que podia pedir para baixarem a música, que podia dizer que não queria ir ao centro comercial, que podia estar com os fones de cancelamento de ruído, que podia dizer já chega. Isto tudo é possível, mas temos de saber que isto é possível. Agora continuo a fechar-me no quarto a chorar depois do dia longo de Natal, mas desta vez choro de felicidade por ter conseguido passar um dia tranquilo e feliz.



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